solid words, liquid thoughts

cuca fundida.

Saturday, April 29, 2006

Tá bom, confesso

Eu me apaixono por estranhos. Ele estava ali sentado na cantina da faculdade com cara de espera. Os cachinhos ruivos caíam nos olhos, usava tênis surrado e eu perdi um pouquinho de mim mesma.

Isso foi há muito tempo. De vez em quando o vejo pelo campus, meu amorzinho anônimo. Algumas coisas mudaram por fora, um piercing novo, o cabelo anda meio grande, apenas imagino que mudanças não ocorreram por dentro. Em mim foram muitas, eu sei. Talvez ele goste de comer goiabada com paçoca e tenha descoberto uma paixão pelo tango.

Aí tem as pessoas que tem aquele magnetismo tal que depois de encontrá-las, você percebe que está sorrindo à toa. É uma energia inexplicável. Impossível não se apaixonar um pouquinho. Além da menina linda que passa todo dia apressada para aula e o velhinho que era guia de trilhas na Floresta da Tijuca. Todos esses anônimos cotidianos que te fazem sorrir sem nem saber direito por quê e parecem alegrar o seu dia.

Ainda há as paixões célebres. O último que me roubou um pouquinho foi o baixista da banda que fez o melhor show que fui na minha vida. Era daquelas pessoas que fazem seu trabalho com alegria e paixão e isso era visível na sua expressão. Tem o Nando Reis, que é amorzinho indiscutível. Amorzinho, aliás, de cachinhos ruivos e tênis surrado e volto ao início do assunto. Mas ele já é outra história.

Friday, April 28, 2006

Pensamento da semana:

Estou no Google, logo existo.

Thursday, April 27, 2006

Depois da tempestade a bonança?


Muitas coisas (de trabalho e faculdade) acontecendo ao mesmo tempo agora e vários textos semi-escritos no meu caderninho (que está acabando, aliás, preciso de um novo). Mas apesar das zilhões de coisas para fazer estou muito tranquila, graças em parte à minha mini visita de campo à Serra do Japi e ao fim de semana em Mococa, só comendo, lendo, batendo papo e dormindo, regado a vinho e poker (!). Good times.


Tenho medo da maré que está por vir, mas no momento ela parece impossível. Depois falo das coisas (in)úteis que li.

Monday, April 17, 2006

O médico recomendou:

uma dose de colo de mãe e papo furado com pai, mais banho de mar para iemanjá levar os maus fluidos, música legal pra espantar os males e confeitos de goma coloridos e queridos à vontade. É tiro e queda.



( e lembrar de autorizar os comentários moderados do blog sempre ajuda, esperta).
Dispersão

Me chamou de dispersiva, disse que era coisa de geminiano. Também me disse que não soube me criar direito para evitar. (Mentira, mãe, você soube sim, nós é que sempre achamos que podíamos ter feito mais, além de esquecermos que a sina dos filhos é contrariar os pais).

Reclamou que fui herdar justo a distração dela, por pensar em coisas demais ao mesmo tempo, a mente estirada em todas as direções. Às vezes isso te faz esquecer de se concentrar no espaço e tempo atual.

Devo ter lido em algum lugar que era preciso se entregar completamente e resolvi fazê-lo. Vou deixando para trás pedaços de mim, como a mochila que fica na sala ao chegar da rua (e às vezes o tênis também), a pasta jogada na cama e o copo d'água esquecido perto do computador. Distribuo pedaços de mim por aí, como forma de colecionar amigos queridos, interesses passageiros, companheiros intelectuais e paixões platônicas por desconhecidos.

Mas nem tudo é deriva. Assim como periodicamente arrumo o armário, os livros, as fotos e organizo meus Cds em gênero musical e sentimental (até acho um canto para a mochila no quarto), eu retorno sempre àqueles que guardaram os pedaços, me mantendo assim em um equilíbrio dinâmico, tal qual solução líquida e gasosa.

Mas como me lembrou um amigo, a entropia de um sistema só aumenta e a ordem dos Cds não dura uma semana.

Talvez eu seja mais parecida com as sementes (leves, plumosas, dispersas pelo vento) da planta que estudo, praga que nasce em qualquer terreno minimamente fértil. As sementes não voltam, ficam onde caem e germinam. Às vezes até sobrevivem.

Monday, April 10, 2006

Ele nasceu e cresceu perto do mar. Agora estranhava essa terra seca e confinante. Aqui o horizonte era plano em todas as direções, não se acostumara com a ausência das montanhas. Havia também uma falsa sensação de espaço. Sentia-se confinado entre os prédios e o horizonte reto, não era o mesmo tipo de amplitude proporcionado pelo mar.

No mar sim havia espaço. Ficava horas sentado na praia, observando o encontro de azuis do céu com o mar e as nuvens a perder de vista. Não era a mesma coisa nessa terra, ele sempre sabia que atrás do horizonte havia outras cidades. Depois do mar havia apenas o oceano, e lá longe, a África. Tinha saudades de simplesmente ver o mar enquanto andava pela cidade.

Aqui o ar era seco e quente. Gostava de molhar as plantas no verão, a água da mangueira fazia subir o pó vermelho fino dos vasos. Pó vermelho que entrava pelas narinas e ficava impregnado na roupa. Nunca mais seus tênis foram brancos.

Tinha um estranho prazer em arrancar as ervas daninhas que brotavam nos lugares mais improváveis. Sempre o fazia pensar em como a vida é teimosa.

Viera para um lugar tão longe de casa a trabalho e a melhor parte do dia era molhar as plantas. O ato lhe passava a sensação de que o mundo estava sob controle e que os problemas poderiam esperar até amanhã. E além do mais, até que havia pessoas interessantes. Um pensamento súbito: acho que vou ficar por aqui um tempo. E ficou.

Sunday, April 09, 2006

Fim de semana legal, apesar de passar muito tempo no lab. Dancei, encontrei pessoas e conversei, sobre assuntos variados.

Não falei sobre o futuro e ninguém me perguntou o que vou fazer da minha vida após o mestrado. Um conhecido irá defender sua tese de mestrado amanhã. Depois ele deve se mudar daqui.

É tão triste quando as pessoas vão embora, mesmo com quem não é tão próximo, não consigo deixar de sentir isso. E todos as pessoas estão se espalhando pelo mundo afora. Mas nem fiquei tão triste dessa vez, acho estou me acostumando com a idéia de partir.

Também não fiquei me estressando com aquilo que não posso controlar.

Às vezes é bom só pensar no agora, ando muito preocupada com a vida.
te esqueci esses dias e fiquei feliz quando percebi.
a vida dá voltas mesmo.
Ando meio sanguinolenta, deve ser a época (como disse outro dia, é a Lua). Ou talvez seja o meu lado melodramático.


texto de sexta-feira, 07/04/06


I'd like to help you doctor
Yes I really really would
But the din in my head

It's too much and it's no good

I'm standing in a windy tunnel

Shouting through the roar
And I'd like to give the information
You're asking for


But blood makes noise
It's a ringing in my ear
Blood makes noise
And I can't really hear you
In the thickening of fear


I think that you might want to know
The details and the facts
But there's something in my blood
Denies the memory of the acts
So just forget it Doc.
I think it's really
Cool that you're concerned
But we'll have to try again
After the silence has returned


Cause blood makes noise
It's a ringing in my ear
Blood makes noise
And I can't really hear you
In the thickening of fear


(Suzanne Vega - Blood Makes Noise)



Um pensamento momentâneo: será que se eu doar sangue ajuda a tirar quem corre em minhas veias?


Seria bom, pois paixão é febre, obsessão, e o ódio também. E eu ando precisando expurgar ambos (antigamente, acreditava-se que febre corria no sangue). E olha só, meu sangue ajudaria alguém que precisa dele, depois de devidamente exorcizados os meus demônios.


Mas não posso doar sangue, fui (ainda sou?) anêmica. Terei que arranjar outro meio.

Friday, April 07, 2006

Join the geek side of the force


Meu irmãozão se juntou ao mundo blogueiro, eba!
Bemvindo, querido. (só falta o Leo).

Wednesday, April 05, 2006


Maré Alta


A corrente vem forte, faz pesar meus braços e pernas, ameaça me puxar para o fundo. Forte e salgada. O sal faz arder as feridas. Tudo bem, minha mãe sempre pôs sal em corte profundo para estancar o sangue.


Minha cabeça está leve, não durmo direito há dias. Lá dentro, há um turbilhão de pensamentos mas não pareço conseguir fixar nenhum.


A maré é controlada pela ação gravitacional da Lua. Meu professor falou e eu acreditei. Talvez seja por isso que ela exerça um fascínio tão grande sobre as mulheres, a Lua.


Agora a maré não é mais água, é sangue. O sangue corre em minhas veias. Leva substâncias de ação neurológica (por que não prestei mais atenção nas aulas de fisiologia?). De nada me adianta saber que é causada por substâncias químicas dentro de mim, a maré ainda sobe. Não importam as outras substâncias sintéticas que ingiro por vinte e um dias, a maré é incontrolável. É culpa da Lua.


A maré sobe e tudo adquire mais significado. O bom é ótimo, o ruim é catastrófico. Fico irritada até comigo mesma.


A maré me cobre agora. Não vou conseguir ficar muito tempo sem respirar (talvez as lágrimas sejam um meio de regular a maré interna). Estou sufocando. Seriam lágrimas, mar ou sangue? Não faz mais diferença, é tudo salgado. E é tarde.


De repente, calma. Cansaço.


A maré está baixando.

Monday, April 03, 2006

O problema de achar normal trabalhar aos fins-de-semana e sair durante a semana é que os dias acabam ficando todos iguais.

Hoje me peguei indagando se era terça-feira (bobagem minha, terça tenho aula o dia inteiro, hoje foi um daqueles dias em que faço aula só na hora do almoço). Ontem foi domingo? Não parece...

Me disseram que essa é a diferença fundamental entre ser pesquisador e ter um emprego, digamos, convencional. No segundo, quando o expediente acaba, os seus problemas ficam lá até o dia seguinte. No primeiro, você não deixa de pensar no seu trabalho em casa ou nas folgas. Os horários são flexíveis, é verdade, mas experimentos não conhecem fins-de-semana e feriados.

Em resumo, é preciso ser workaholic.
lalala

ativei os comentários para todo mundo. esse povo que não sabe fazer blog é um problema...
Yeah Yeah Yeah

Obrigado, Paul, John, Ringo e George por simplesmente existirem. Mesmo.

Ouvindo: Eleanor Rigby

Sunday, April 02, 2006


dormi 16 horas ao todo. 13 à noite e mais 3 após o almoço (esgotamento mental?). acordei me sentindo um estranho dentro do meu próprio corpo.


fiz bolo de fubá com goiabada. sempre ajuda.


à noite, passamos em um aniversário e no supermercado 24h para comprar as carnes para o churrasco de hoje (como é tão bom fazer compras de madrugada com o supermercado vazio). me deu vontade de ser noturna. estava prestando atenção no mundo com aquele vagar e intensidade dos insônes.


no meio de tudo isso, pus em prática uma idéia antiga que vinha remoendo há tempos. assim nasceu isso aqui. vamos ver quanto tempo dura.
Texto velho, de 18/07/05


O caderninho azul


Um dia lhe mostrou o que tanto escrevia no caderninho azul desgastado.

Ela descobriu ter sido nas linhas finas e precisas capturada como uma foto em tinta preta sobre o papel branco.

Havia observado o modo como ela passava hidratante após o banho. Começava pela perna esquerda. Sempre. Ele achava engraçado ela passar a loção nos pés. Depois passava na outra perna. Primeiro do joelho para cima, depois do joelho para baixo.


Aí subia. Barriga, costas, ombros, braços (primeiro o esquerdo, depois o direito). Nunca se lembrava de passar o creme no cabelo antes do hidratante. Daí, ela sempre reclamava que saía toda a loção das mãos ao lavar.


Achava lindo a ordem em que ela se vestia. Calcinha calça sutiã blusa. Por isso quase nunca combinava a lingerie colorida de menina. Ria das cores contrastantes que surgiam ao despi-la e das meias desculpas que ela lhe oferecia. Era tão distraída às vezes.


E ela lia o caderninho azul e se sentia vivissectada. Sabia que ele era capaz de capturar e descrever até mesmo seus pensamentos. Quisera tanto escrever como ele, passara meses treinando e ao achar que o tinha alcançado via-se infinitamente mais distante.


Resignou-se a ser objeto de tanto amor e prosa e voltou a pintar.
Gata,
Dias turbulentos.
Andei mal de novo.
Sometimes the missing pieces aren´t easy to find.


Ouvindo: Morcheeba - Col
crust of the meaning

Eu não aprendi a escrever direito, mas sou teimosa. Eis uma nova tentativa.

Language (Suzanne Vega)

If language were liquid
It would be rushing in
Instead here we are
In a silence more eloquent
Than any word could ever be


These words are too solid
They don't move fast enough
To catch the blur in the brain
That flies by and is gone
Gone
Gone
Gone


I'd like to meet you
In a timeless, placeless place
Somewhere out of context
And beyond all consequences
Let's go back to the building
On Little West Twelfth
It is not far away
And the river is there
And the sun and the spaces
Are all laying low
And we'll sit in the silence
That comes rushing in and is
Gone (Gone)


I won't use words again
They don't mean what I meant
They don't say what I said
They're just the crust of the meaning
With realms underneath
Never touched
Never stirred
Never even moved through


If language were liquid
It would be rushing in
Instead here we are
In a silence more eloquent
Than any word could ever be


And is gone
Gone
Gone
And is gone