Tá bom, confesso
Eu me apaixono por estranhos. Ele estava ali sentado na cantina da faculdade com cara de espera. Os cachinhos ruivos caíam nos olhos, usava tênis surrado e eu perdi um pouquinho de mim mesma.
Isso foi há muito tempo. De vez em quando o vejo pelo campus, meu amorzinho anônimo. Algumas coisas mudaram por fora, um piercing novo, o cabelo anda meio grande, apenas imagino que mudanças não ocorreram por dentro. Em mim foram muitas, eu sei. Talvez ele goste de comer goiabada com paçoca e tenha descoberto uma paixão pelo tango.
Aí tem as pessoas que tem aquele magnetismo tal que depois de encontrá-las, você percebe que está sorrindo à toa. É uma energia inexplicável. Impossível não se apaixonar um pouquinho. Além da menina linda que passa todo dia apressada para aula e o velhinho que era guia de trilhas na Floresta da Tijuca. Todos esses anônimos cotidianos que te fazem sorrir sem nem saber direito por quê e parecem alegrar o seu dia.
Ainda há as paixões célebres. O último que me roubou um pouquinho foi o baixista da banda que fez o melhor show que fui na minha vida. Era daquelas pessoas que fazem seu trabalho com alegria e paixão e isso era visível na sua expressão. Tem o Nando Reis, que é amorzinho indiscutível. Amorzinho, aliás, de cachinhos ruivos e tênis surrado e volto ao início do assunto. Mas ele já é outra história.