solid words, liquid thoughts

cuca fundida.

Wednesday, May 16, 2007

devo dizer que após três semanas de espera e alguns pingos indecisos, Isabela desistiu de esperar e foi brincar na poeira da sua terra semi-árida.

Saturday, May 05, 2007

Bela e a chuva

Isabela quis sair naquele dia cinza de tempo instável. Suas amigas lhe avisaram que quem sai na chuva costuma se molhar. Então ela resolveu sair sem guarda-chuva.

Ela já havia saído em outras tempestades e ficado gripada e tristonha após o fim das chuvas gélidas. Mas Isabela sabia que enquanto chovesse, valia a pena se encharcar.

Todas as gripes do mundo valiam aquele instante eterno de alegria. Alegria que a fazia dançar debaixo das gotas cristalinas enquanto o calor emanava da terra seca aliviada.

Isabela sabia tudo isso, mas o dia continuava com aquela cara de quem não sabe se chove ou não chove, então ela sentou no banco da praça para esperar os primeiros pingos que lhe trariam alegria.

Com as horas, a noite caiu e o céu continuava indeciso, enquanto Isabela continuava sentada no banco da praça.

Isabela ainda está esperando a chuva.

Afasia

Ela me disse que tinha dias em que o mundo era tão lindo que doía. E eu fiquei sem saber se deveria abraçá-la. Na minha hesitação, o momento passou, ela se despediu e foi embora.

Quis correr atrás dela e explicar que a vulnerabilidade é um sentimento que nos deixa sozinhos e transparentes sob holofotes no meio da multidão. Mais do que temer ser transpassada pelo seu olhar, tive medo de ser compreendida. Medo de que alguém que estivesse passando por ali percebesse como é fácil me desmontar, por mais que eu finja estar por cima da situação.

Quis lhe dizer que eu também tenho medo do futuro, a ponto de doer a garganta, mas ao mesmo tempo tenho uma fé no porvir. Deve ser a única fé que tenho, daquelas pessoas que esperam uma chegada de data incerta, que pode nunca vir.

Mas na hora eu fiquei paralisada, a garganta deu nó e eu não disse nada.

Odeio quando isso acontece.