Maré Alta
A corrente vem forte, faz pesar meus braços e pernas, ameaça me puxar para o fundo. Forte e salgada. O sal faz arder as feridas. Tudo bem, minha mãe sempre pôs sal em corte profundo para estancar o sangue.
Minha cabeça está leve, não durmo direito há dias. Lá dentro, há um turbilhão de pensamentos mas não pareço conseguir fixar nenhum.
A maré é controlada pela ação gravitacional da Lua. Meu professor falou e eu acreditei. Talvez seja por isso que ela exerça um fascínio tão grande sobre as mulheres, a Lua.
Agora a maré não é mais água, é sangue. O sangue corre em minhas veias. Leva substâncias de ação neurológica (por que não prestei mais atenção nas aulas de fisiologia?). De nada me adianta saber que é causada por substâncias químicas dentro de mim, a maré ainda sobe. Não importam as outras substâncias sintéticas que ingiro por vinte e um dias, a maré é incontrolável. É culpa da Lua.
A maré sobe e tudo adquire mais significado. O bom é ótimo, o ruim é catastrófico. Fico irritada até comigo mesma.
A maré me cobre agora. Não vou conseguir ficar muito tempo sem respirar (talvez as lágrimas sejam um meio de regular a maré interna). Estou sufocando. Seriam lágrimas, mar ou sangue? Não faz mais diferença, é tudo salgado. E é tarde.
De repente, calma. Cansaço.
A maré está baixando.
2 Comments:
At 16:54, Anonymous said…
(ih, agora vi o eclipse do meu blog)
não tenho tido isso. mas lembro d ter visto uma vez um filme estranho, preto e branco, denso, em q algum momento um personagem dizia q as mulheres tinham melhor noção de sua fragilidade, de sua vida, do que os homens, por sangrarem todos os meses. À mercê.
Acaba que é ainda mais do que isso.
Eu sempre gostei de gotinhas vermelhas se diluindo na água transparente do vaso.
At 20:40, Mari said…
Eu sempre lembro do amigo gay da bridget jones que fala pra ela em tom sepulcral: "only women bleed".
Mas eu não gosto mais de ver as gotas no chuveiro desde que fiquei anêmica.
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