solid words, liquid thoughts

cuca fundida.

Thursday, June 08, 2006

Fervura

Meus nervos estavam fervilhando, ameaçavam desabrochar em flor de pele. Tentava me concentrar na aula, mas a atenção escorria do foco, como água da concha das mãos. O fervor debaixo da pele pinicava e me distraía.

Minha eu Ansiosa estava aflita, queria sair correndo em volta da lagoa para ver se os minutos passavam mais rápidos. Minha eu Filósofa pensou que devia ser uma daquelas provações da vida, pelas quais todos passam e deu as mãos com a Paciente e foram jogar baralho e pôr as fofocas em dia. Minha eu Rebeldia Adolescente anda meio doente e declarou que era mais uma das injustiças do mundo e que a cada dia ela via menos motivos para crescer. Meu eu Macho mandou ela para de choramingar, pois isso era coisa de mulherzinha. Minha eu Cética concordou e achou um absurdo tal comportamento, enquanto a eu Polyanna tinha certeza de que tudo daria certo. Minha eu Supersticiosa mandou não contar as bênçãos para que elas rendam. Meu eu Moleque já saiu correndo faz tempo, brincar sem preocupações, ainda estou esperando ele voltar.

Com tantas vozes divergentes dentro de mim a voz do professor não passava de som ambiente. De repente, a aula acabou e fui para casa. O fervor continuava, como o tempo quente e abafado antes da tempestade de verão, preste a entrar em ebulição debaixo da pele. No dia seguinte, acordei às seis e fui treinar por duas horas, até o cansaço muscular provocar cansaço neural. Só mais três dias de espera.

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

trecho de Amigos -Vinícius de Morais

Sunday, June 04, 2006

Gotas de saudade

Por favor, me ensina a ser desprendido como você. Pois todos a minha volta estão partindo para longe e eu não posso (nem tenho direito) de segurá-los perto de mim. Porque minha hora de partir também está chegando e o rumo é incerto.

Porque se eu fico triste com despedidas mesmo de pessoas que nem são amigos tão próximos, como farei quando meus amigos deixarem o ninho para abraçar o mundo de vez?

É essa saudade que me aperta o peito constantemente, às vezes nem sei de quê. É essa história de sair por aí deixando pedaços de mim para trás. Às vezes os pedaços vão para muito longe. Às vezes sou eu que vou.

Faz um ano que estou me despedindo dessa cidade infernal e encantadora e ainda dói. Talvez seja o medo de mudança, talvez seja o medo da despedida ser eterna, ou pior ainda, dela não acontecer.

Só sei que sou feita todinha de saudades constantes e tem hora que aperta demais o peito. E que não há outra língua na qual expressar isso.