Ele nasceu e cresceu perto do mar. Agora estranhava essa terra seca e confinante. Aqui o horizonte era plano em todas as direções, não se acostumara com a ausência das montanhas. Havia também uma falsa sensação de espaço. Sentia-se confinado entre os prédios e o horizonte reto, não era o mesmo tipo de amplitude proporcionado pelo mar.
No mar sim havia espaço. Ficava horas sentado na praia, observando o encontro de azuis do céu com o mar e as nuvens a perder de vista. Não era a mesma coisa nessa terra, ele sempre sabia que atrás do horizonte havia outras cidades. Depois do mar havia apenas o oceano, e lá longe, a África. Tinha saudades de simplesmente ver o mar enquanto andava pela cidade.
Aqui o ar era seco e quente. Gostava de molhar as plantas no verão, a água da mangueira fazia subir o pó vermelho fino dos vasos. Pó vermelho que entrava pelas narinas e ficava impregnado na roupa. Nunca mais seus tênis foram brancos.
Tinha um estranho prazer em arrancar as ervas daninhas que brotavam nos lugares mais improváveis. Sempre o fazia pensar em como a vida é teimosa.
Viera para um lugar tão longe de casa a trabalho e a melhor parte do dia era molhar as plantas. O ato lhe passava a sensação de que o mundo estava sob controle e que os problemas poderiam esperar até amanhã. E além do mais, até que havia pessoas interessantes. Um pensamento súbito: acho que vou ficar por aqui um tempo. E ficou.
1 Comments:
At 18:39, Anonymous said…
eu odeio o correios ect.
Post a Comment
<< Home