Dessincronizada
Tentei te enviar um bilhetinho escrito no guardanapo da lanchonete, mas você não viu. Já tinha pago a conta. Tomou um último gole do guaraná e colocou o copo em cima do guardanapo que o garçom deixou na mesa junto com seu troco. O copo suava e borrou minha letra no papel. Devolvi a Bic azul emprestada para a senhora com o neto e agradeci.
O bilhete era resposta ao seu recado escrito no vidro embaçado da minha janela durante a chuva. Mas eu estava cozinhando o jantar e ouvindo Ray Charles e não reparei. Tudo bem, fica para a próxima.
Dia desses, você me chamou do outro lado da rua, mas eu não percebi. Meu ônibus havia chegado e você sabe que eu moro longe. Tentei compensar te mandando uma canção de bem-te-vi, mas a banda começou a tocar e ninguém ouviu o pobrezinho.
Resolvemos então tomar café com bolinho de chuva naquela tarde e também não deu certo. Meu relógio marcava seis da tarde e no seu ainda eram três e quinze.