Desconexa (2)
Vou te contar um segredo. Aqui mesmo, no meio de todo mundo. É o melhor jeito de ninguém prestar atenção no que estamos fazendo.
Não faz muito tempo, eu tinha freqüentemente a sensação de que minha vida era um teatro. Pronto, falei. Era assim, às vezes eu estava fazendo as coisas mais banais, como tirar o almoço do forno e eu sentia ao mesmo tempo que eu estava assistindo à minha própria vida de fora. Tinha certeza de que minhas falas, nos próximos minutos, eram pré-definidas.
A sensação não durava mais que alguns segundos, mas me deixava atordoada por um bom tempo, olhando para pais e amigos, sem saber o que era verdadeiro. Até hoje lembro exatamente como era.
Ontem percebi que nunca mais senti essa desconexão. Será que me conformei com a vida, me adaptei? Talvez a Rotina, aquela destruidora de paixões, tenha me anestesiado, ou talvez a vida de cientista tenha me acorrentado ao chão.
Não sei porque fui lembrar disso hoje. Mas a estranheza ficou, um amargo na boca depois da sobremesa, que destoa do dia ensolarado lá fora. Sem saber o que fazer, levantei e fui fazer almoço.