solid words, liquid thoughts

cuca fundida.

Saturday, December 16, 2006

Joaninha com saudades

Joaninha pequenina nascera na erva florida, mas um dia descobriu que havia outras flores tão ou mais belas em outras ervas, arbustos e árvores. Descobriu também que era capaz de voar até as novas flores com seu par de asinhas finas, escondidas embaixo do par duro, vermelho com bolinhas pretas.

Já Lagartona não saía nunca da erva florida, mesmo sendo tão grande e mais velho que Joaninha. Ele não podia voar. Lagartona era legal, mas havia dias em que ele se enrolava num cartucho de folhas e seda e se recusava a falar com todo mundo. Ninguém sabia o que passava pela sua mente naquele quartinho escuro e esses dias eram sombrios. Mesmo assim Joaninha gostava de Lagartona.

Com o tempo, as asinhas finas de Joaninha se fortaleceram e ela passou a voar cada vez mais longe. Pensava bastante em Lagartona, mesmo com a distância e pouca conversa. Planejava visitá-lo quando terminasse de explorar a belíssima flor de maracujá que encontrou em seu caminho e com a qual está fascinada há algum tempo.

Um dia veio a notícia de que Lagartona se foi. Ele virou borboleta invisível e voou para onde Joaninha ainda não podia seguir. Naqueles dias choveu muito, temporais repentinos e persistentes. Com o tempo o sol voltou a brilhar.

De vez em quando ainda chove e Joaninha fica murcha, lembrando de Lagartona. Mas ela sabe que a vida é assim mesmo, uns vão e outros ficam com a Saudade, ora apertada, ora branda. Sabe também que um dia será a sua vez de voar invisível e deixar alguém para trás com a Saudade como companheira.