Texto velho, de 18/07/05
O caderninho azul
Um dia lhe mostrou o que tanto escrevia no caderninho azul desgastado.
Ela descobriu ter sido nas linhas finas e precisas capturada como uma foto em tinta preta sobre o papel branco.
Havia observado o modo como ela passava hidratante após o banho. Começava pela perna esquerda. Sempre. Ele achava engraçado ela passar a loção nos pés. Depois passava na outra perna. Primeiro do joelho para cima, depois do joelho para baixo.
Aí subia. Barriga, costas, ombros, braços (primeiro o esquerdo, depois o direito). Nunca se lembrava de passar o creme no cabelo antes do hidratante. Daí, ela sempre reclamava que saía toda a loção das mãos ao lavar.
Achava lindo a ordem em que ela se vestia. Calcinha calça sutiã blusa. Por isso quase nunca combinava a lingerie colorida de menina. Ria das cores contrastantes que surgiam ao despi-la e das meias desculpas que ela lhe oferecia. Era tão distraída às vezes.
E ela lia o caderninho azul e se sentia vivissectada. Sabia que ele era capaz de capturar e descrever até mesmo seus pensamentos. Quisera tanto escrever como ele, passara meses treinando e ao achar que o tinha alcançado via-se infinitamente mais distante.
Resignou-se a ser objeto de tanto amor e prosa e voltou a pintar.
O caderninho azul
Um dia lhe mostrou o que tanto escrevia no caderninho azul desgastado.
Ela descobriu ter sido nas linhas finas e precisas capturada como uma foto em tinta preta sobre o papel branco.
Havia observado o modo como ela passava hidratante após o banho. Começava pela perna esquerda. Sempre. Ele achava engraçado ela passar a loção nos pés. Depois passava na outra perna. Primeiro do joelho para cima, depois do joelho para baixo.
Aí subia. Barriga, costas, ombros, braços (primeiro o esquerdo, depois o direito). Nunca se lembrava de passar o creme no cabelo antes do hidratante. Daí, ela sempre reclamava que saía toda a loção das mãos ao lavar.
Achava lindo a ordem em que ela se vestia. Calcinha calça sutiã blusa. Por isso quase nunca combinava a lingerie colorida de menina. Ria das cores contrastantes que surgiam ao despi-la e das meias desculpas que ela lhe oferecia. Era tão distraída às vezes.
E ela lia o caderninho azul e se sentia vivissectada. Sabia que ele era capaz de capturar e descrever até mesmo seus pensamentos. Quisera tanto escrever como ele, passara meses treinando e ao achar que o tinha alcançado via-se infinitamente mais distante.
Resignou-se a ser objeto de tanto amor e prosa e voltou a pintar.
2 Comments:
At 20:10, Anonymous said…
foi esse q eu achei lindo =)*
At 09:55, Mari said…
=)
(mas eu sempre sinto que imito a fo - recheiodeque.blogspot.com para quem não conhece)
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