solid words, liquid thoughts

cuca fundida.

Monday, April 17, 2006

Dispersão

Me chamou de dispersiva, disse que era coisa de geminiano. Também me disse que não soube me criar direito para evitar. (Mentira, mãe, você soube sim, nós é que sempre achamos que podíamos ter feito mais, além de esquecermos que a sina dos filhos é contrariar os pais).

Reclamou que fui herdar justo a distração dela, por pensar em coisas demais ao mesmo tempo, a mente estirada em todas as direções. Às vezes isso te faz esquecer de se concentrar no espaço e tempo atual.

Devo ter lido em algum lugar que era preciso se entregar completamente e resolvi fazê-lo. Vou deixando para trás pedaços de mim, como a mochila que fica na sala ao chegar da rua (e às vezes o tênis também), a pasta jogada na cama e o copo d'água esquecido perto do computador. Distribuo pedaços de mim por aí, como forma de colecionar amigos queridos, interesses passageiros, companheiros intelectuais e paixões platônicas por desconhecidos.

Mas nem tudo é deriva. Assim como periodicamente arrumo o armário, os livros, as fotos e organizo meus Cds em gênero musical e sentimental (até acho um canto para a mochila no quarto), eu retorno sempre àqueles que guardaram os pedaços, me mantendo assim em um equilíbrio dinâmico, tal qual solução líquida e gasosa.

Mas como me lembrou um amigo, a entropia de um sistema só aumenta e a ordem dos Cds não dura uma semana.

Talvez eu seja mais parecida com as sementes (leves, plumosas, dispersas pelo vento) da planta que estudo, praga que nasce em qualquer terreno minimamente fértil. As sementes não voltam, ficam onde caem e germinam. Às vezes até sobrevivem.

1 Comments:

  • At 16:33, Anonymous Anonymous said…

    pais e mães.. pq é mesmo q nós queremos ser um deles? Será que a gente sabe? Será que é pra deixar mais um pedaço por aí?
    É que a gente vive, confunde, sofre, tenta se achar, e acha que conseguiu quando multiplica tudo.

     

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