Eu nunca vou esquecer que um dia ele me falou: Nós vemos nos outros nossos próprios defeitos. Aquilo ficou tatuado no meu peito, como couro de boi marcado a ferro quente, a cicatriz profunda entre as outras tantas que a vida deixa na pele (Será que é por isso que as pessoas se tatuam? Para disfarçar as cicatrizes?).
Talvez eu brigue tanto com a minha mãe porque no fundo somos iguais. Ah, nossos pais. Nós tentamos nos rebelar, mas sempre vem alguém estragar tudo nos dizendo o quanto somos a imagem deles (cuspido e escarrado). Somos muito mais parecidos com eles do que temos a coragem de admitir (esculpido em Carrara). Com a idade, o desprezo adolescente transforma-se em orgulho da semelhança.
É a desilusão de perceber que nossos primeiros (e maiores) heróis são apenas humanos (Se nossos heróis nos decepcionam, como poderíamos ser perfeitos?) e a capacidade de amá-los mais ainda por o serem.
Desde que ele me disse aquilo, passei a criticar os outros com cautela. Não são os olhos que são espelhos da alma, pois passei a ver com outros olhos depois daquela conversa e minha alma ainda continua, o espelho deve ser o que os olhos nos mostram. O difícil é enxergar o que realmente vemos e não o que esperamos ver.