Cansaço

Resolvi prender as palavras através da escrita, para ver se os pensamentos também fixam. Pois quando consigo organizá-los em fala, eles escapam da minha boca antes da voz e só sobra o vazio do silêncio.

Cansei de tentar entender o inexplicável. Será que você me respeitará menos por isso? Não foi uma decisão repentina e nem fácil, juro. É que passei muito tempo pensando em círculos e não cheguei a lugar algum. Andei por ruas desconhecidas em países familiares e ruas familiares em países desconhecidos. Vi tudo quanto é tipo de gente. Observei de forma objetiva e observei de forma totalmente parcial o novo e o velho. Procurei os mínimos detalhes, fiquei tonta com a poluição visual. Divaguei muito, sozinha e acompanhada. Tentei alcançar o inalcançável (existe motivação mais nobre que essa?) e voltei ao ponto de partida: poucas pessoas valem a pena, não importa o lugar.

Estou farta de jogos de palavras e de interesses, dos invejosos de plantão, de ter que adivinhar as intenções por trás das palavras coloridas e ornamentadas o tempo todo. Cansada das pessoas vazias e das abobrinhas que são despejadas em meus ouvidos. Não pensam, não se comprometem, não tomam partido, nem que seja para mudar de idéia logo em seguida. Sorriem seus sorrisos plásticos, dizem belas insignificâncias e vão embora.

Não me entenda mal, não sou contra o uso de máscaras, inclusive possuo várias. São um mal necessário para o convívio social. O que me assusta são as que escondem um vazio. Tenho medo de que me traguem como um buraco negro e depois me joguem fora feito cigarro fumado.

Não interessa se o copo está meio cheio ou meio vazio, interessa que pelo menos metade esteja ocupada. Para provar que há profundidade. Substância, mesmo impalpável. Vou colocar uma placa na porta de casa: Proibida a entrada sem conteúdo. Será que funciona?